A necessidade nunca fizera do trem um elemento necessário em seu cotidiano. O mundo agora é dos carros, ônibus, aviões. Ao trem cabe o seu lugar no passado, a lembrança de algo que um dia teve importância e agora transforma-se num dinossauro inútil que ainda insiste em assustar a cidade cortando-lhe ao meio. Algum amigo lhe disse que os trens ligam o nada ao nada. Não havia porque tomá-los, principalmente nesta cidade. Filosofia barata. Lembrou-se do comentário do amigo, e agora, deu-lhe a devida resposta, que teria interesse em conhecer o nada. Seus dias eram tão cheios de nada que em alguns momentos é preciso uma viagem de trem para se preencher o vazio.
Estava perdido. A estação lhe impressionou pelos traços antigos. Viu uma placa de inauguração. O nome de Dom Pedro ou qualquer outra figura histórica. Nos livros de história tal período parecia mais distante, e agora, ao entrar no prédio, nem tanto. Estou ficando velho, frase corriqueira em sua mente. Sentia-se um louco. Não haveria motivo pelo qual ir até outra cidade, não conhecia ninguém lá, não lembrava de qualquer coisa que poderia ser visto. Tomou simplesmente para se deslocar de um lado ao outro. Provavelmente quando chegasse lá a primeira providência seria a volta. Comprou sua passagem, esperou que o trem chegasse, entrou.
Sentou-se na janela. Pensou que a paisagem em movimento faria a viagem mais rápida. Sem querer, refletiu sobre a sua vida. A velocidade do trem lembrou-lhe a velocidade de sua existência. O tempo passou mais rápido de uns tempos pra cá. De repente, um barulho brusco, ferro contra ferro, o trem abruptamente diminuiu a velocidade. Parou. Os passageiros pularam do trem. Ninguém da companhia apareceu. As pessoas formaram um grupo, comentaram algo sobre a demora e seus empregos, pegaram o primeiro ônibus que passou em direção ao destino antes buscado. Pegou um no caminho oposto. Não sabia se tudo aquilo valeu a pena. Achou tudo uma perda de tempo.